Giro de notícias #4 – Agosto/24

Indígenas Guarani Kaiowá sofrem atentado a tiros

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) denunciaram um ataque violento ocorrido na noite do dia 3 deste mês, no município de Douradina (MS). O ataque com munição letal realizado por um grupo de capangas deixou ao menos 10 indígenas gravemente feridos, todos moradores da terra indígena Panambi-Lagoa Rica. Há suspeita de conivência por parte de agentes da Força Nacional, visto que o ataque se iniciou poucas horas após a retirada das forças policiais do local.

O ataque parece ser mais um capítulo da tentativa de tomada das terras indígenas por parte de fazendeiros da região. A terra Panambi-Lagoa Rica possui uma área de 12 mil hectares, tendo sido delimitada ainda no ano de 2011, mas sua demarcação encontra-se paralisada até o momento. Enquanto disputas jurídicas e políticas — como a tentativa de emplacar a injusta tese do marco temporal — seguem ocorrendo, indígenas de diversas localidades brasileiras sofrem violências diárias com pouco ou nenhum auxílio de governos.

Japão reajusta a taxa básica de juros pela primeira vez em 8 anos

No fim de julho (31/07) o Bank of Japan (BoJ) aumentou as taxas de juros em 0,25% e decidiu reduzir as compras de títulos do governo. Esse movimento foi o segundo momento positivo de variação das taxas de juros no Japão, que saíram do patamar negativo de -0,1% em março deste ano.

Estas medidas são uma série de estímulos da autoridade monetária japonesa para estimular o crescimento econômico no país, levando em conta um cenário de crescimento das taxas de inflação globais. Apesar de ter sido afetada nas últimas três décadas por ritmo de crescimento letárgico e deflação, a política monetária de juros negativos tinha por foco justamente combater essa tendência, através do crescimento sustentável da inflação e, conjuntamente, a atividade econômica. 

O motivo para o abandono dos juros negativos, em março deste ano, se deu em parte pela conjuntura econômica global e, por outro, por uma análise de aumento da demanda e atividade dentro da economia doméstica japonesa. Tais fatos motivaram o BoJ a abandonar as taxas negativas em 2024, mas sem se afastar terrivelmente da taxa básica de juros em 0%. 

O segundo reajuste positivo, de 0,25%, no entanto, foi recebido de maneira dividida. Os relatórios mais recentes mostraram um desaquecimento da economia japonesa e, além disso, o iene se tornou mais volátil no período, prejudicando o consumo, métrica que sustentava parte desse reajuste.

Revolta massiva em Bangladesh

Após um mês sem funcionamento, as universidades e escolas de Bangladesh voltaram a receber seus estudantes na segunda-feira, dia 19. O fechamento havia sido decretado em 17 de julho, no início das manifestações populares contra o governo, que levaram milhares de jovens a varrerem as ruas do país. As manifestações começaram com o bloqueio de estradas por parte de universitários no dia 1º de julho, recebendo apoio popular logo após o começo da brutal repressão policial.

Motivados por um cenário de alto desemprego, uma das principais demandas dos jovens bengalis era a revogação do sistema de cotas para filhos e netos de veteranos da guerra de independência de Bangladesh. Após ter sido abolida em 2018 pelo governo, voltou a vigorar este ano por decisão da Suprema Corte. O sistema de cotas bengali estabelece que 30% dos cargos públicos sejam direcionados a parentes dos veteranos.

Como resultado, as manifestações levaram à destituição de Sheikh Hasina do posto de primeira-ministra no dia 5 deste mês, cargo que ocupava desde 2009 – e ocupou anteriormente entre os anos de 1996 e 2001. Ao todo, estima-se que as vítimas fatais da repressão policial ultrapassaram os 300. Em meio a isso, o governo interino de Bangladesh tem se mostrado incapaz de lidar com os diversos casos de violência religiosa que irrompem no país.

CEO da Bungie, subsidiária da Sony, demite 17% da sua força de trabalho

A empresa do mercado de jogos, criadora de Halo e Destiny, comprada pela Sony em 2022 por U$3.7 Bilhões, anunciou um layoff de cerca de 17% de sua força de trabalho. Essa rodada de demissões é a segunda desde 2023 e não foi previamente anunciada aos integrantes da companhia. Além dessa rodada, 155 dos colaboradores, 12% da força de trabalho, serão remanejados para outros estúdios dentro do guarda-chuva da Sony Interactive Entertainment. 

Não satisfeitos com a perda de pessoal, 75 funcionários que trabalhavam numa nova propriedade intelectual (PI) serão puxados pela Sony para a criação de um novo estúdio, voltado à realização desse projeto. O agregado das duas últimas rodadas de demissão e remanejamentos resulta numa redução de quase 40% dos funcionários em menos de 1 ano.

Bungie está no mercado desde 1991 e é criadora de franquias bilionárias dentro da indústria, mas foi forçada, por decisões equivocadas de liderança, a cortar custos, demitir funcionários e afunilar o processo produtivo dentro da empresa, resultando na aquisição pela Sony. A aquisição prometia a manutenção da estrutura da força de trabalho dentro da empresa, mas isso não se cumpriu.

Uma série de decisões de investimento incorreto por parte das lideranças dentro da Bungie, além disso uma cultura de Bungie Magic, um mantra de confiança que estimula crunching e propaga a ideia de qualquer empreitada da empresa resultaria em sucesso, acabou afastando a clareza de comunicação entre o atual CEO Pete Parsons e os funcionários. O resultado foi uma companhia extremamente alavancada e decisão de corte de custos por parte das lideranças.

A indústria de jogos, como um todo, se encontra num momento complexo. Depois da baixa do boom da pandemia para o setor, o ritmo de demissões em massa vem se acelerando, enquanto trabalhadores caminham para a criação de uma série de enormes sindicatos dentro da indústria, no sentido de proteger seus empregos e direitos. O movimento visto na Bungie não é isolado, os layoffs no setor já somam 11.000 empregos apenas no ano de 2024. O dobro de desligamentos do ano passado. O desaquecimento e demissões, no entanto, não impediu que na mesma semana de realização dos desligamentos da empresa, seu CEO, Pete Parsons, comemorasse a aquisição de U$2 milhões em carros de época.

Não existe, até o momento, nenhum comunicado que indique que Pete Parsons, apontado como principal responsável pelas decisões de investimento equivocadas, pretende largar o cargo.

Brasil e Chile firmam cooperação no setor espacial

Durante visita oficial ao Chile, realizada no início deste mês, o presidente Lula assinou diversos acordos e tratativas bilaterais com o governo do país vizinho. Entre os temas abordados nos acordos, destacam-se turismo, agricultura, saúde e energia, bem como um importante acordo sobre cooperação espacial. A parceria no campo espacial foi firmada no dia 6 deste mês, em cerimônia de evento de lançamento da pedra fundamental do Centro Espacial Nacional chileno, que será construído no Parque Bicentenário de Cerrillos, em Santiago, capital do Chile.

O documento de cooperação em atividades espaciais refere-se apenas a atividades com fins pacíficos, abrangendo o compartilhamento de dados e tecnologias, principalmente em relação a satélites. Em discurso durante a cerimônia, o presidente brasileiro destacou que o governo federal pretende retomar o desenvolvimento no setor nacional de pesquisas espaciais com o intuito de trazer benefícios sociais, iniciando com um investimento de 300 milhões de reais em encomendas tecnológicas.

Olimpíadas 2024 chegam ao fim, Brasil alcança a 20ª colocação

Os Jogos Olímpicos de Verão de 2024 sediados na França chegaram ao fim no dia 11 deste mês. A edição, que iniciou-se no dia 26 de julho, contou com mais de 10 mil atletas competindo em 329 eventos divididos em 48 modalidades distintas. Essa foi a 24ª presença do Brasil em Olimpíadas, com participação desde os Jogos Olímpicos de 1920 na Bélgica. Ao todo, somamos (já com Paris) 170 medalhas, o que torna nosso país o maior vencedor sul-americano dos Jogos Olímpicos.

A edição de Paris será lembrada por diversas situações “inusitadas”, como as reclamações dos competidores sobre as duras camas, falta de climatização nos ambientes, forte chuva durante o evento de abertura, a falta de durabilidade das medalhas que pouco tempo após as premiações já mostravam sinal de desgaste e — o que já era de se esperar — a péssima qualidade da água do Rio Sena, chegando a adoecer alguns competidores que entraram no rio. 

Entretanto, para os brasileiros, os jogos de 2024 ficarão registrados por motivos muito mais importantes. Ao fim desta edição, o Brasil conquistou ao todo 20 medalhas, sendo 3 de ouro, 7 de prata e 10 de bronze. Sem dúvidas, as mulheres carregaram o Brasil nas costas nessas Olimpíadas, tendo obtido 12 das 20 medalhas, além de uma categoria mista. Nosso maior destaque foi a ginasta Rebeca Andrade, recebendo um ouro e duas pratas em competições solo, além de um bronze em equipe, tornando-se a maior medalhista olímpica brasileira de todos os tempos com 6 medalhas ao todo. As outras  medalhas de ouro desta edição também foram conquistadas por mulheres: Beatriz Souza no Judô e a dupla de vôlei de praia Ana Patrícia e Duda.

OMS volta a declarar emergência global de Mpox

A Mpox, doença anteriormente conhecida como varíola dos macacos, foi declarada como emergência de saúde pública de interesse global pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 14 de agosto. Anteriormente, a Mpox já havia sido declarada ameaça global pela OMS em 2022. Vale destacar que não se trata da mesma versão de vírus de dois anos atrás, tendo se desenvolvido uma nova cepa do vírus.

A doença é transmitida pelo vírus Monkeypox, com o primeiro registro de contaminação desse tipo de varíola em humanos tendo ocorrido na década de 70. No Brasil, foram registrados cerca de 700 casos da doença em 2024, com mais de 300 casos só no estado de São Paulo. O vírus pode ser transmitido por meio de contato com pessoas infectadas, via inalação de grandes gotículas respiratórias, e não há cura para a doença, os tratamentos são voltados apenas para alívio dos sintomas.

Atualmente, o surto de Mpox concentra-se na África, sobretudo na República Democrática do Congo e países próximos. Entretanto, como já havia ocorrido em 2022, o assunto, infelizmente, só ganha atenção das entidades internacionais e da mídia hegemônica quando ameaça certos países, principalmente do Norte global. Mais uma vez, assim como em outros casos de surtos de doenças que tem seu surgimento atrelado a países periféricos, vemos o reflexo das relações desiguais e racistas que seguem ditando com o quê e com quem devemos nos importar.