No final de julho de 2025, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou as tarifas sobre produtos brasileiros de 10% para 50%, por meio de uma ordem executiva que adicionou uma sobretaxa de 40%. A justificativa inicial foi política: segundo Trump, o Brasil estaria ameaçando os interesses e a segurança dos EUA, especialmente por conta das ações do Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado ideológico. A pressão foi fortalecida por Eduardo Bolsonaro, que, nos bastidores, articulou diretamente com republicanos em Washington para impor retaliações ao governo Lula. Embora Trump tenha alegado ainda um déficit comercial dos EUA com o Brasil, os dados oficiais mostram o contrário: os americanos tiveram superávit de US$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre de 2025. O pano de fundo real da tensão, no entanto, passa pela política externa brasileira, marcada pela reaproximação com os BRICS.

Essa orientação multilateral adotada por Lula, com protagonismo em fóruns como o BRICS e um discurso mais autônomo frente às grandes potências, desagradou frontalmente a administração republicana. Trump vê o bloco como uma coalizão rival à influência dos EUA no mundo e, ao longo do mês de julho, intensificou ameaças públicas e diplomáticas, associando o Brasil a um “alinhamento perigoso”. Nesse contexto, as tarifas deixam de ser apenas medidas econômicas e passam a funcionar como instrumentos de intimidação política. Mesmo antes da aplicação formal do tarifaço, o simples fato de Washington sinalizar a retaliação já gerou instabilidade — dado o peso dos EUA no sistema comercial global. O uso estratégico de tarifas por Trump confirma seu padrão de transformar o comércio em arma geopolítica.

A resposta do mercado financeiro brasileiro a esse cenário foi imediata. Após o anúncio das tarifas, o Ibovespa recuou em meio à incerteza sobre o alcance da medida. No entanto, quando veio à tona a lista de produtos isentos da nova alíquota, o índice ensaiou recuperação: subiu 0,95% no pregão de 30 de julho, impulsionado por ações da Embraer, que dispararam quase 11%. Mesmo assim, o acumulado do mês refletiu cautela dos investidores. Analistas apontam que o mercado já precificava parte do risco, mas reagiu fortemente às nuances políticas e diplomáticas da crise. Basicamente, houve uma postura comum do mercado frente às decisões do governo Lula: precificação de risco guiada pela afeição dos grandes players ao governo vigente (nenhuma) e retomada após normalização.

Ao todo, cerca de 700 exceções foram incluídas no decreto, abrangendo setores como aeronaves civis, celulose, fertilizantes, suco de laranja, entre outros — o que representa aproximadamente 43% das exportações brasileiras para os EUA. Apesar disso, produtos de peso na balança comercial e consumo americano, como café, carnes, frutas, cacau e têxteis, foram integralmente atingidos pela tarifa de 50%. O impacto sobre a indústria nacional e o agronegócio é imprevisível, existem riscos de cancelamento de contratos e possíveis demissões. O governo brasileiro, embora tenha criticado duramente a medida, sinalizou disposição para diálogo — mas rejeitou as condições políticas impostas por Washington e anunciou inclinação para reciprocidade.

Por fim, o saldo da crise é complexo. O Brasil preserva parte relevante de suas exportações graças às isenções e a diversificação de parceiros comerciais, mas sai enfraquecido em setores específicos no curto prazo. Já os EUA reiteram sua postura de supremacia tarifária e dão novo passo no uso do comércio como ferramenta de dominação política e isolacionismo perante outras nações. Em paralelo ao tarifaço, Trump acionou a Lei Magnitsky para impor sanções a figuras do Judiciário brasileiro, como o ministro Alexandre de Moraes, ampliando o escopo da retaliação. Com isso, o que começou como um conflito comercial tornou-se uma tentativa clara de demonstração do poder coercitivo norte-americano — e um teste à soberania das decisões internas do Brasil.

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